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PILOTO TATUIANO JÁ FICOU 15 MIL HORAS NO CÉU

O comandante Samuel Loureiro Braga, 53 anos, está na aviação profissional desde 1979. Sua paixão sempre foi voar. O tatuiano já pilotou desde planadores até o Boeing 747-400, que transporta quase quinhentos passageiros. Samuca, como é conhecido entre familiares e amigos, conhece as principais cidades de quatro continentes (América, Europa, Ásia e África). Nesta entrevista, exclusiva ao Jornal Integração, ele fala sobre segurança de voo, sua carreira, que se iniciou no Aeroclube de Planadores de Tatuí, fatos curiosos que ocorrem no interior das grandes aeronaves e dá um depoimento surpreendente e carinhoso, ao responder a última pergunta feita pelo editor deste semanário. Veja abaixo a íntegra da entrevista:
ÍNTEGRA DO DEPOIMENTO DO PILOTO
Integração – Atualmente, qual avião pilota, em que país e qual cargo exerce?
Samuel – Atualmente, sou comandante e voo um Boeing 737NG, modelos 700, 800 e 900, da empresa Shenzhen Airlines, subsidiária da Air China, na China Comunista.
Integração – Desde criança sua paixão foi a aviação. Com quantos anos você começou a se interessar pela aeronáutica?
Samuel – Não me lembro quando despertou o interesse. Mas, me recordo de voar com meu pai (Braguinha), nos “teco-tecos” do Aeroclube de Tatuí. Nesta época, tinha por volta de 6 anos e meu pai deixava eu pilotar, sob seu controle. Tem uma foto deste voo no meu Facebook.
Integração – Tatuí sempre teve campo de aviação, como era chamado na década de 1950. Onde você começou o seu aprendizado?
Samuel – Comecei a voar em Tietê (década de 1970), porque na época não mais operava o antigo Aeroclube de Tatuí. Por ação do dr. Nogueira, Acassil Camargo e meu pai, o Braguinha, o Aeroclube de Planadores, que estava instalado em Tietê, foi transferido para Tatuí. E aí, em Tatuí, conclui meus “brevets” de planador e avião, na condição de piloto privado. Em janeiro de 1979, passei a exercer a atividade de instrutor de planador. No início dos anos 80, estudei na Escola Superior de Aeronáutica, em São Paulo Também frequentei aulas no Aeroclube de São Paulo, para finalizar meus brevets de piloto comercial, voo por instrumentos e multimotores. Voei também helicóptero, nos Estados Unidos.
Integração – A carreira na aviação é árdua e de constante aprendizado. Qual a sua idade e quantos anos levou para chegar ao cargo de comandante?
Samuel – Completei 53 anos em janeiro. Em junho de 1987, Ingressei na Rio-Sul como co-piloto de avião Bandeirante. Em março de 88, comecei a voar o Boeing 737-200, na condição de co-piloto na Varig. Em novembro de 1990, passei a voar um DC-10, em linhas internacionais. De 1992 a 1994, voei o Boeing 747-400. Voltei para o DC-10 e fiquei como co-piloto até março de 1999. Em outubro daquele ano, fui promovido a comandante de 737-200. Portanto, foi uma trajetória de 12 anos para ser comandante. Hoje, totalizo mais de 15.000 horas de jato, metade delas como comandante.
Integração – Um Boeing 747-400 pode transportar 416 passageiros, em três classes, mais a tripulação. Qual é a sensação de se sentir responsável no comando de um grande jato?
Samuel – Profissionalmente falando, não sei dizer se existe diferença em ser responsável por um grande jato comercial de passageiros ou de carga, ou mesmo de um pequeno jato executivo. As rotinas de voo são as mesmas. Nas grandes aeronaves, talvez, demore mais para embarcar os passageiros. O trabalho de piloto é bem mais fatigante do que a maioria pensa. É uma das profissões mais estressantes que existem.
Integração – Você poderia descrever a sensação de pilotar um avião por um período de doze horas, como normalmente acontece nas rotas internacionais?
Samuel – Trabalhando, o tempo passa mais rápido. Por experiência própria, posso afirmar que a gente fica menos cansado que o passageiro, que fica parado, sem fazer nada. Hoje voo o Boeing 737NG, com percurso de, no maximo, 6 horas. Eu prefiro voos curtos. Quando fazia voos de longa duração na Varig, de até 12 horas, eram com duas tripulações. Nós tínhamos cama para dormir, num lugar que a gente chamava de “sarcófago”. Portanto, pilotos não trabalham as 12 horas, sem parar. Por força da regulamentação, as horas de trabalho dos pilotos são controladas. Dependendo do país, não passam de 8 ou 9 horas.
Integração – Atualmente, onde reside com sua família e quais companhias aéreas já trabalhou até a presente data?
Samuel – Atualmente, estou baseado no sul da China e moro na Califórnia. Há alguns dias, estava em Harbin, norte da China, apenas pernoitando. Na verdade, no início de minha carreira, comecei a trabalhar profissionalmente como instrutor no Aeroclube de Tatuí. Depois, na Rio-Sul, companhia do grupo Varig. Em seguida, fui transferido para a Varig e fiquei até julho de 2006, pouco antes da quebra da empresa. Naquele ano, me desloquei com a minha família para a China. Em 2008, trabalhei por um período de sete meses na Hong Kong Express. Voltei para a Shenzhen Airlines, onde estou até hoje. Em 2009, instalei minha família na Califórnia e trabalho num regime de “commuting”. Através deste sistema, passo dois meses na China e um na Califórnia. Minhas crianças aprenderam a falar chinês, mas estão esquecendo por falta de uso. Estou me aposentando no Brasil e penso em parar dentro de poucos anos. Pretendo investir no mercado de opções e voltar a voar somente com planador.

Samuel e a tripulação da Shenzhen Airlines.
Integração – O elevador é considerado o meio de transporte mais seguro do mundo. O avião ocupa o segundo lugar. Você poderia explicar a razão de o avião comercial ser considerado tão seguro?
Samuel – Acredito que várias razões tornam o transporte aéreo seguro. Os pilotos são bem treinados e doutrinados em segurança. Os aviões ficam a maior parte do tempo longe de obstáculos porque voam alto. As aeronaves possuem vários equipamentos em dobro ou mais. E os voos são controlados por radares e tem controle estrito de tráfego.
Integração – Existem pessoas que se sentem bem em um carro de Fórmula 1 e outros pilotando um jetski. Você, na condição de piloto, gosta mais de estar em terra ou voando?
Samuel – Gosto mais de ficar com a família, em terra. Aprecio muito voar em planador. Minha filha, a Karen, completou 15 anos em dezembro, e é aficionada por aeronáutica. Ela, com esta idade, está tirando o brevet de planador, na cidade de Lake Elsinore, na California.
Integração – Apenas para satisfazer uma curiosidade. Quando vocês desembarcam em algum aeroporto, dá tempo de conhecer as cidades? Ou o tempo é escasso?
Samuel – São situações imprevisíveis. Às vezes, temos tempo demais e outras, mal dá para descansar. Em relação a esta pergunta, conhecemos as cidades de pernoite e nos identificamos mais com as pessoas locais, do que com turistas. Neste momento (terça-feira, 1º de maio), estou respondendo as perguntas do Integração na cidade de Nanning, no sul da China. Neste local, às vezes, caminho até a beira de um grande rio que passa por aqui. Agora a temperatura está 35 graus Celsius lá fora. Preferi ficar no ar condicionado do quarto do hotel e escrever. Ao longo da carreira, tive também o prazer de conhecer muitas cidades do mundo inteiro, nos quatro continentes. Pernoitei nas cidades mais importantes da América, Europa, Ásia e algumas da África. Nunca estive na Austrália. Na Shenzhen Airlines temos voos para o Japão, Coréia, Vietnam, Indonésia, Singapura e Malásia. Dentro em breve, devem aparecer novos destinos, pois a empresa cresce muito rápido.
Integração – Você poderia contar algum fato curioso presenciado em algumas de suas viagens?
Samuel – Muitas pessoas perguntam se nos meus vôos, vi algo diferente pelos céus deste mundão afora. Nunca vi nada. E eu gosto de olhar para fora da cabine. A aviação chega a ser muito pacata, mas tive algumas “panes”. Uma vez, chegava num 737-300 da Varig, em Buenos Aires. O avião teve pane nos flaps (partes móveis na asa do avião). Eles travaram e tive que pousar sem eles. O avião fica mais veloz. Depois do pouso, quando taxiava o aparelho no aeporto, anunciei para os passageiros o problema e que tudo correu muito bem. Durante o desembarque, as autoridades aeronáuticas da “Forza Aérea Argentina” vieram me entrevistar, para saber se a operação tinha sido satisfatória. Eles colocaram os carros de bombeiros na pista, para evitar qualquer problema. Um passageiro ficou furioso pelo fato de eu não anunciar o problema ainda em voo. Pediu para falar comigo e ficou à espera, até que os tenentes e coronéis da Forza Aérea fizessem milhões de perguntas, enquanto eu ainda permanecia no “cockpit”. Os militares demoraram tanto que o passageiro foi embora bravo e sem falar comigo. Dessa, escapei!
Aqui na China, as coisas são engraçadas. É exatamente ao contrário do que se imagina no Brasil, de que a polícia chinesa é extremamente eficaz. É exatamente o contrário. Outro dia, tive problemas com uma passageira em Qindao, uma cidade ao noroeste deste país. Tive que pedir a intervenção da policia, para tirar uma passageira problemática, em razão da segurança do voo. Os policiais aparentavam ter um medo terrível de a passageira ser parente de alguém do “partidão” (PCC) e não tocaram na mulher. Foram quatro horas sem poder decolar e a mulher continuava a gritar. Ela só saiu quando resolveram cancelar o voo e reassumir a atividade na manhã do dia seguinte. A nossa tripulação deixou a passageira sozinha com a policia no avião e eu apaguei a luz da aeronave.
Integração – Em 15 mil horas de vôo, você já transportou pessoas famosas nas aeronaves que pilotou?
Samuel – Eu me lembro de ter o Pelé como passageiro e o fotojornalista Sebastião Salgado, num voo de Paris. Como voei cinco anos como comandante da ponte aérea Rio/São Paulo, muitos artistas globais devem ter viajado comigo. Um fato bastante curioso aconteceu por volta do ano 2000, num voo da Varig. Três tatuianos que trabalhavam nesta companhia participaram de atividades no mesmo voo. Eu era o comandante, a comissária chefe era a Rosângela Porciúncula e o mecânico o Wagner Grazziano. Infelizmente, não registramos este fato com uma fotografia.
Integração – Nas horas vagas, você gosta de pilotar aviões pequenos. Qual a diferença?
Samuel – Gostaria muito de voar, mas não tenho muito tempo. No meu entender, voar como profissão não é a mesma coisa que voar por simples prazer, num dia bonito.
Integração – Faça algumas considerações finais aos nossos leitores.
Samuel – Eu acompanhei a montagem, diagramação e ajudei a distribuir, nas madrugadas, as primeiras edições do Jornal Integração, nas ruas de Tatuí.
Principais notícias desta edição
JUSTIÇA MANDA BANCOS REINSTALAR BIOMBOS
DEPOIMENTO DE UM TATUIANO QUE FICOU 15 MIL HORAS NO CÉU
TURISTA DE TATUÍ MORRE NA BAHIA
QUANDO BATEREM NA PORTA, CRÔNICA DE J. RIGOLÃO
SIMPLESMENTE ASSIM E ASSIM, CRÔNICA DE NINA LEONI
DESTAQUES ECONÔMICOS, POR ANTÔNIO JOSÉ MARTINS
COLUNA FILATÉLICA, POR CARLOS ROBERTO FAVARÃO
COLUNA GENTE ( NOTAS SOCIAIS E FOTOS)
NOVELAS
PALAVRAS CRUZADAS
NOTAS POLÍTICAS (NOVO GRUPO DISPUTA ELEIÇÃO NA QUADRA)
CANAL 1, NOTAS DE TV POR FLÁVIO RICCO
CONSOLO NU AVESSO, POESIA DE PAULO COSTA (PACCO)
CLASSIFICADOS (IMÓVEIS, VEÍCULOS E OUTROS)
SECRETARIA ARBORIZA ÁREA URBANA DE TATUÍ
TATUÍ E SUA HISTÓRIA (JORNAL RIDENDO – AGOSTO DE 1924)
INSEGURANÇA JURÍDICA E OS TRIBUTOS, POR MARCOS CINTRA
DEPUTADA PEDE INFORMAÇÕES SOBRE PRESÍDIOS DE CAPELA DO ALTO
PREFEITURA REMODELA PRAÇA DO JARDIM SABA
REUNIÃO DEBATE QUESTÕES DE MINERAÇÃO
AMART EXPÕE TRABALHOS DE ALUNOS DE ARTE
COLUNA DE ESPORTES
SINDICATO FECHA ACORDO SALARIAL NA SANTA CASA
FALECIMENTOS
CÂMARA MUNICIPAL RETOMA VOTAÇÃO DE PROJETOS
SECRETARIA LIBERA R$ 68,3 MIL PARA A SANTA CASA
MUTIRÃO RECOLHE SEIS TONELADAS DE LIXO ELETRÔNICO
COLUNA POLICIAL
FUNDO SOCIAL INICIA NOVAS TURMAS DE CUIDADORES DE IDOSOS
CURSO DE AUXILIAR DE ESCRITÓRIO ATRAI 42 JOVENS
VALECRED APOIA PILOTA DA TOP SERIES 2012
INTEGRAÇÃO NAS EMPRESAS
MATÉRIAS OFICIAIS (Editais de Prefeitura de Tatuí e editais de casamentos do Cartório de Registro Civil de Tatuí).
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